23 de nov. de 2016

A Vontade de crescer | Piity Manson

Sabe quando você é criança e você só consegue ver o seu mundo, sabe quando você ia brincar de princesa com as suas amigas e você sempre queria ser a Cinderela, eu sempre fui à Cinderela, eu não tinha amigas, amigas imaginarias. Eu gostava da Cinderela, sabe quando você tem que dar características para o seu príncipe e então você inventa muitas coisas de como você deseja que seu namorado do futuro seja? Você é criança, você não sabe o que é amor ainda, você só vê as histórias e imagina que aquilo pode acontecer contigo. Quando eu era pequena eu imaginava sempre um menino alto, fofo, que tivesse franja, sempre gostei de franjas, ele iria me raptar e nós viveríamos felizes para sempre, até eu ver que isso não existia. Enquanto eu crescia eu ia aprendendo que o amor não é como nos contos de fadas e que se tu queres que ele aconteça como é lá, você tem que errar muito. Com o tempo fui adicionando características ao meu príncipe encantado, queria que ele tocasse bateria, eu adorava baterias e sempre saia batucando tudo, queria que ele fosse engraçado também, que fosse fofo e gostasse de jogar vídeo games, naquela época ainda dominava o ps1 e o super Nintendo. Crescendo mais, eu comecei sonhar com ele, com nós, ele sempre aparecia de longe, numa colina escura, dava para se ver que ele tinha franja, ela voava ao vento, não podia ver o rosto dele, ele era alto, magro e vestia roupas escuras. Nunca cheguei perto dele, eu sempre o via só de longe, às vezes ele até acenava pra mim e eu acordava, umas épocas acharam que estava ficando louca tendo o mesmo sonho toda semana, pelo menos duas vezes. Nessa época eu tinha o fake e vivia a minha vida virtualmente, nunca fui popular, sempre fui excluída, sempre sofri bullying, minha vida não era boa, mas o que eu achava ruim estava prestes a ficar pior quando meus pais se separaram, eram duas vidas, duas casas, duas famílias novas, e eu no meio de tudo isso. Não tinha tempo para pensar em amor, eu tinha uns seis ou sete anos nessa época. Tive de aprender a amadurecer rápido por causa de tudo isso e isso me causou sérios problemas. Um dia eu estava no banho e eu comecei sentir faltar de ar, tontura, tudo começou ficar preto, só me deu tempo de abrir a porta e desmaiar, eu estava no meu pai, ele me socorreu, chamou uma ambulância, lembro-me de acordar na ambulância, eu não conseguia sentir ar, aquilo em agonizava, eu me debatia enquanto eles colocavam oxigênio em mim, só via luzes de hospital piscando enquanto eu entrava na maca, lembro-me de levar agulhadas e ouvir meu pai chamando meu nome, me pedindo para não ir, não era meu tempo ainda. Mas eu não tinha culpa, meu coração estava fraco, eles conseguiram me salvar no ultimo minuto, ate hoje tenho problema com isso, problemas emocionais, não posso sentir muita dor, grandes emoções, sustos ou sofrer muito, começo a sentir falta de ar e isso me assusta muito. Lembro-me de quando meu bisavô morreu, eu estava no hospital segurando a mão dele, eu tinha uns cinco anos, ele me deu dinheiro para ir comprar algo no bar ao lado e quando eu voltei, ele já não estava mais lá. É uma das cenas que eu mais lembro da minha infância, o mais estranho é que minha mãe diz que eu não estava lá no dia, mas eu sei que estava... Ela disse que eu estava dormindo em casa, mas não pode ser, eu lembro dele, da sua presença, lembro de sentir o pulso fraco dele como um sinal de adeus. Sempre escondi tudo isso das pessoas, não queria ver elas com dó de mim, sendo minhas amigas por causa da minha vida, dos meus problemas. Eu era muito excluída, as pessoas sempre me acharam estranha por nunca gostar das coisas que elas gostavam, eu adorava vários estilos, maquiagem fortes, roupas pretas, animes, jogos. Sofri muito por causa disso, a sociedade não conseguia aceitar o fato de uma menina gostar do mesmo que um menino, então, eu criei um perfil na internet e fingi ser algo que eu não era, ganhei muita popularidade por isso, ainda na época dos fakes, era bom, eu passava a tarde toda no computador com minha ‘família e amigos’ virtuais, eu achava bom. Isso era como eu conhecia a vida, eu nunca havia sentido o abraço de alguém que eu amasse ou um beijo de oi, nunca havia ganhado presente de dia dos namorados ou de aniversario de algum amor. Não sabia o que era amor. Mas eu acho que todos nós sabemos, pelo menos um pouco, temos uma noção do que é amar. Mesmo que não saibamos como lidar com ele, nós queremos senti-lo. Pois sabemos como é bom quando alguma pessoa nos abraça e nasce um sorriso na nossa cara, sabemos como é bom beijar alguém que te ama, sabemos como é bom ir dormir sabendo que tem alguém não muito longe de ti que estará sonhando com você. Sabemos como é bom receber uma mensagem de bom dia, boa noite, sabemos como algumas palavras nos fazem sorrir e mudar nosso dia da água pro vinho. Sabemos que um “sinto saudades” “como você esta?” “estou preocupado com você” pode melhorar meses da sua vida e te fazer sentir viva, mesmo depois de um colapso te levando a uma morte emocional. Não sei se hoje em dia as pessoas ainda sabem o valor de um “Eu te amo” porque elas usam sem saber o que dizem, mas quando eu amo alguém eu corro atrás. Eu quero viver com a pessoa, eu faço valer a pena. Mas o que adianta eu amar e me esforçar e a pessoa não estar nem ai? Muitas vezes a pessoa te ama, te ama muito, sente ciúmes de você, te abraça, te beija, a pessoa te faz sorrir e você a faz também, mas ela não sabe como namorar, não sabe o que fazer ou que atitudes tomar perante a isso. Muitas vezes a pessoa é orgulhosa demais pra pedir desculpas por algo, orgulhosa pra dizer que te ama em publico, às vezes a pessoa é tímida pra te beijar na frente dos outros. Às vezes tudo é novo pra ela, ela não sabe como agir, ela ouve conselhos, as pessoas falando parece tão fácil, mas ela não como amar, o que fazer as pessoas a mandam fazer as coisas, mas ela não sabe a atitude de como agir. Muitas vezes ela perde uma grande chance, perde um grande amor por medo de arriscar, por não saber como amar, por ser tudo novo. Por isso eu dou tantas chances quando vejo que é tudo novo pra pessoa. Uma hora ou outra ela vai ter que aprender, se não for contigo vai ser com outra pessoa, mas essa pessoa pode não ser tão paciente com ela e ela ira sofrer.

Nota: meus textos não falam de nenhuma pessoa/situação em especifico, peço que não sintam como indireta ou utilizem para tal fim. Escrevo os mesmos quando a inspiração bate, independente do assunto e do momento vivido atual. 


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